Em um ano marcado por assembleias, reivindicações e tensões na renovação do Acordo Coletivo de Trabalho 2023/24 e Abono Salarial dos metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, Edimar Miguel, revela os desafios enfrentados e as conquistas alcançadas. Com base nas votações sobre o acordo de turno de oito horas, a entrevista destaca a reconstrução do sindicato, a defesa intransigente dos trabalhadores e os planos para fortalecer a representação da categoria no próximo ano. Uma análise abrangente sobre a gestão, projetos em andamento e as expectativas para 2024 é compartilhada por Edimar aos leitores do Jornal Ponto, reforçando o compromisso em recuperar direitos e conscientizar os “Homens e Mulheres de Aço”.
Jornal Ponto: Quais foram os principais desafios enfrentados pelo Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense ao longo deste ano? Como a entidade buscou superar essas dificuldades em prol dos trabalhadores?
Edimar Miguel: Assumimos o Sindicato sem nenhuma estrutura. Prédio vazio. Literalmente recomeçamos do zero e sofrendo execuções milionárias. Também recebemos um número grande de funcionários com estabilidade no sindicato. Nossa principal missão é a defesa do valor do trabalho e repudiamos a forma suja e irresponsável com a qual diretoria anterior lidou com o Sindicato. Era preciso uma mudança moral, então respeitamos os acordos coletivos. Também tivemos nossas prerrogativas trabalhistas e sindicais violadas, uma vez que o sindicato voltou a apresentar defesa intransigente dos trabalhadores. Somos a primeira diretoria cujos diretores, que são funcionários da CSN, não tiveram a licença para fins sindicais. Judicializamos e vamos avançando nessa mudança. Quanto à dívida, estamos tentando cortar todas as despesas e trabalhando para aumentar o número de sindicalizados para melhorar a receita, pois hoje só queremos contribuição do trabalhador. Estamos trabalhando muito duro para despertar a consciência do trabalhador quanto ao seu valor. Passou tanto tempo ouvindo narrativas apenas das empresas que às vezes acredita em posições completamente equivocas e desequilibradas. Quanto à confiança no sindicato, a volta da democracia real e defesa intransigente já estão perceptíveis.
Pode fazer um balanço da sua gestão em 2023? Quais foram as conquistas mais significativas e como esses resultados impactaram positivamente os metalúrgicos da região?
A principal conquista foi a volta da defesa do valor do trabalho e dos direitos trabalhistas. Exigimos maior equilíbrio nos acordos coletivos e de turno, e hoje o trabalhador tem a confiança que o sindicato vai defender o melhor interesse dele e respeitar sua vontade em última instância, mesmo que às vezes tenhamos uma visão cuja pauta pudesse ter valor ou vantagem ao trabalhador. A defesa do valor do trabalho de forma intransigente, o respeito à opinião do trabalhador e a disputa de consciência para que o trabalhador se valorize mais são, sem dúvida, nossas maiores conquistas. O aumento dos valores de acordo coletivo e acordo de turno já têm causado impacto na qualidade de vida das famílias e, também, no comércio, com a melhora da capacidade de consumo. Por isto é tão importante toda a sociedade nos apoiar.
Quais são os projetos em andamento que merecem destaque? Além disso, há algum plano ou iniciativa que pretende implementar no próximo ano para fortalecer ainda mais a representação dos metalúrgicos?
A relação com o trabalhador é baseada em três vertentes: a volta da aproximação do sindicato para perto do trabalhador; a defesa do seu melhor interesse e melhor direito; e o respeito absoluto à vontade do trabalhador. O resgate da consciência do trabalhador quanto ao seu valor é um processo que avançamos a cada disputa. Os trabalhadores verbalizam que sentem essa diferença e esses princípios. Então, essa confiança do trabalhador continuaremos a manter e respeitar para, juntos, avançarmos muito mais.
Como tem sido a relação entre o Sindicato e a categoria dos metalúrgicos? Em que aspectos a entidade tem conseguido estreitar laços e atender às necessidades dos trabalhadores?
A prioridade máxima do SindMetal foi reestabelecer a relação direta e permanente com a categoria. Por muitos anos, diversos organismos ligados à classe econômica tentaram (e tentam) demonizar e desmobilizar a organização sindical. Constantemente, você vê alguns meios jornalísticos ligados à poderes econômicos atacarem o sindicato. Isso tem um objetivo simples: com o sindicato enfraquecido, o trabalhador não consegue lutar por seus direitos. Tanto o estado quanto às categorias econômicas (patrões) quer o mínimo civilizatório para o trabalhador. Só através do sindicato e da atividade sindical é que o trabalhador vai avançar em seus direitos. Meu esforço, enquanto presidente, é conscientizar o trabalhador desta realidade. Ele tem percebido isso nos posicionamentos do sindicato frente às negociações. De um lado democracia sempre, então a palavra máxima é do trabalhador. E, por outro lado, a disputa de consciência, para que reconheça seu valor e juntos tenhamos força para avançar em direitos.
Quais são as expectativas para o próximo ano em relação ao trabalho do Sindicato? Existem desafios específicos que você antecipa e que merecem atenção especial?
Nossa categoria passou anos sofrendo influência tentando nos dividir: a categoria e a organização do trabalhador a partir do seu sindicato. Então, nosso principal desafio é a consciência de classe e nossa total integração. Mas também pretendemos avançar em nossas ações sociais dentro da nossa base e poder promover algumas ações de lazer e cultura. O que posso garantir é que, a cada ano, estaremos mais fortes e incansavelmente recuperando direitos.
Em clima de Natal, que mensagem você gostaria de transmitir para os trabalhadores, os “homens e mulheres de aço”, que dedicam suas vidas ao setor metalúrgico? Qual é a sua mensagem de apoio e esperança para essa categoria tão importante?
Natal é época de lembrarmos de boas novas e das bem-aventuranças. É renovo das esperanças através do nascimento de Jesus e sua mensagem de amor. Que cada mulher e homem de aço saiba que sua capacidade de reunir força para recuperar direitos, salários e melhores condições de vida e trabalho voltou a partir de seu sindicato e que, a cada dia, essa união aumenta a capacidade de equilíbrio nas negociações também. O caminho foi e está sendo longo, mas estamos avançando e nos fortalecendo. Agradeço de coração a todos, porque cada vez mais compreendemos essa mensagem e a cada dia nos tornamos um só corpo. Essa unidade vai fazer nossas conquistas do tamanho da nossa união e dedicação.