Com novas ondas atingindo a Europa e a Ásia e em meio à alta na taxa de positividade para Covid-19 no Rio de Janeiro, a pandemia parece ainda estar longe do fim. Nesta semana, a Secretaria Municipal de Saúde de Volta Redonda detectou um aumento no número de casos nos últimos 15 dias. Os dados foram divulgados no Boletim Epidemiológico do município e mostram um salto nos registros de casos confirmados de 63, na semana epidemiológica 17/2022, para 119, na semana 19/2022.
O documento lembra, no entanto, que o aumento não se reflete, até o momento, em aumento de ocupação de leitos hospitalares ou óbitos, mas que a situação se caracteriza como um incremento da circulação viral. “O que era esperado em se considerando a redução de temperaturas e a sazonalidade, que favorece a ocorrência de doenças de transmissão respiratória em meses mais frios”, diz a nota técnica da prefeitura.
Com base na situação, o documento recomenda medidas, em caráter imediato, como o reforço na testagem de todos os casos de síndrome gripal aguda; a importância da notificação, pelo aplicativo E-SUS Notifica, de todos os casos suspeitos e confirmados; o isolamento social dos casos confirmados; além da vacinação. “As pessoas que ainda não completaram o esquema vacinal básico (duas doses) devem, o quanto antes, buscar a vacinação, disponível para pessoas a partir de cinco anos de idade”, ressalta a secretaria municipal de Saúde.
Vacinação
De acordo com especialistas, a vacinação continua sendo a medida mais importante para continuar reduzindo o número de mortes e casos graves da doença. Em Volta Redonda, segundo a SMS, pessoas acima de 18 anos devem realizar o primeiro reforço, caso ainda não o tenham feito, desde que tenham a segunda dose há pelo menos 90 dias. O reforço será estendido para idosos acima de 60 anos; portadores de comorbidades; pessoas com deficiência; trabalhadores de educação, saúde, segurança pública e assistência social em atividade; e gestantes e puérperas acima de 18 anos. “É fundamental, nesse momento, garantir a cobertura vacinal para as pessoas que ainda não completaram seus esquemas. Também deve-se ressaltar que a vacinação pode e deve ser feita conjuntamente à vacinação contra a influenza, que está com campanha em andamento”.
Além da vacinação, a secretaria de Saúde vem alertando quanto à importância do uso de máscaras, especialmente em pessoas com sintomas de síndrome gripal. “Recomenda-se fortemente que todos retomem o uso de máscaras nos ambientes fechados e evitem aglomerações. Essa recomendação se reforça para gestantes, puérperas, pessoas em idade avançada, imunossuprimidos e portadores de comorbidades graves”.
Transmissão aumenta, mas casos graves diminuem
Os dados da semana epidemiológica mais recente em Volta Redonda revelam o aumento de 84 novos casos em apenas uma semana na cidade. Neste período, não houve nenhum óbito confirmado com a doença. A taxa de ocupação de leitos na rede SUS está em 4% para leitos clínicos e 8% em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Já na rede particular, não há nenhum paciente internado em leitos clínicos e também 0% de ocupação por Covid em leitos de UTI.
Em nota enviada à imprensa, a Prefeitura de Volta Redonda disse estar monitorando a situação da Covid-19 e confirmou, através das análises dos testes realizados na rede pública municipal, o aumento no número de casos confirmados da doença. Apesar das novas confirmações, o setor de Vigilância em Saúde, ressalta que a ocupação de leitos na rede hospitalar segue estável, assim como o número de óbitos. O comunicado ainda alerta à população a redobrar os cuidados nesse período de clima mais frio, o que impacta na transmissão de síndromes respiratórias.
“Já era previsto”
Para o pneumologista Gilmar Alves Zonzin, a explosão de novos casos de Covid-19 não é surpresa. “De certa forma, isso já era esperado devido à liberação da circulação das pessoas, a não obrigatoriedade de máscaras, o aumento das aglomerações. Isso proporciona a transmissão de qualquer micro-organismo que utilize a via aérea como meio de partir de uma pessoa para outra. O vírus nunca vai desaparecer, ele não vai deixar de existir, ele não vai sumir. E quando você começa a ter mais interação, e as pessoas voltam a viajar, fazer festas, o aumento no número de casos é certeza. Isso já era uma coisa prevista. O movimento de certas liberações deveria ter sido uma coisa gradual e progressiva e não uma abertura total de uma hora para outra”, lamentou o médico.
“Bom senso”
Questionado sobre as diretrizes mais importantes para frear esse avanço nas contaminações, o pneumologista destaca: “As pessoas têm que ter ciência e não podem ter ilusão de que o vírus foi embora, de que o vírus não existe mais e de que você não vai adoecer. Assim sendo, as pessoas, especialmente as mais vulneráveis, precisam manter seus cuidados. É inaceitável você ver pessoas de idades mais avançadas e com comorbidades saindo às ruas sem máscaras e indo para aglomerações maiores, tendo um grau de exposição muito acentuado. Isso é perigoso. Cada um tem que cuidar de si, da sua saúde e do seu organismo. É importante você não se sentir constrangido de ter uma máscara com você e colocá-la quando for entrar em um ambiente fechado. Isso é bom senso”.
“Assustador”
Zonzin ainda comenta sobre a quantidade de pessoas que não vacinaram ou complementaram seus esquemas vacinais. “Por motivos que a gente não faz ideia. Isso é assustador. As vacinas estão disponíveis. É uma coisa meio louca, pois, de início, havia uma busca pelas vacinas, pessoas querendo se estapear, pessoas querendo furar filas, driblando certas regulamentações para tomar a vacina antes da outra. E, agora, com a vacina disponível, as pessoas não estão tomando suas doses de reforço. O vírus está aí, está circulando e você aumentar a sua resistência numa lógica com a vacinação é algo é extremamente importante na redução do risco de desenvolvimento de doença grave”.
Para o médico, apesar do aumento nos registros, a redução na incidência de casos graves e hospitalizações é reflexo de diversos fatores. “É uma questão multifatorial: uma delas é a cobertura vacinal que aumenta nossas capacidades resistivas corporais fazendo com que, no contato com o vírus superior de uma forma melhor estruturada das nossas defesas, a doença seja mais branda. Outro ponto é a questão de rebanho, especialmente com a Ômicron, que se disseminou de uma forma assustadora. E um terceiro ponto é que na evolução natural dos vírus a gente, historicamente, vê que existe uma tendência nas mutações virais da prevalência de cepas mais transmissíveis e menos agressivas. Esse conjunto de fatores te leva a acreditar que as coisas têm uma tendência a caminhar para esse lado, da doença com menos propensão a causar casos críticos e de maior gravidade, com as pessoas imunizadas, já tendo tido contato natural com o vírus e o vírus se tornando menos agressivo. É isso que a gente espera que seja o fecho desse período trágico para a humanidade”, finalizou.