A história de Volta Redonda está intimamente ligada à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), uma das maiores usinas siderúrgicas do Brasil. Com a construção da CSN na década de 1940, a cidade passou por um intenso processo migratório, recebendo trabalhadores de diversas partes do país, conhecidos como “Arigós”, em busca de oportunidades e emprego.
A palavra “Arigó” originalmente referia-se aos trabalhadores de origem humilde. No contexto de Volta Redonda, ao longo dos anos, o termo adquiriu um significado mais lúdico. Ele passou a ser associado às aves de arribação, que são pássaros migratórios em busca de sobrevivência. Assim, artistas e artesãos fizeram uma relação direta entre essas aves e os trabalhadores que vieram para a construção da CSN, participando ativamente da formação e desenvolvimento de Volta Redonda.
Um importante aspecto desse processo migratório foi o projeto da Vila Operária de Volta Redonda, concebido para atender às necessidades dos trabalhadores da usina. Esse projeto, baseado nos princípios racionalistas, separava claramente as funções urbanas, como moradia, trabalho, lazer e circulação. Isso levava à especialização das áreas e ao ordenamento dos fluxos, com vias hierarquizadas e o trânsito local separado das demais circulações.
As habitações para os trabalhadores foram construídas tanto na Vila Operária, com edificações elaboradas em kits pré-fabricados de madeira vindos do Paraná, quanto em acampamentos provisórios próximos à área da estação. No canteiro de obras, foram erguidas centenas de habitações coletivas de madeira, além de escritórios, restaurantes, hospital provisório e instalações de apoio à extração de matérias-primas disponíveis na região.
A segregação residencial era evidente, com a estratificação social seguindo a topografia da cidade. Quanto mais alto o cargo ocupado na empresa, mais distante da usina e mais elevada era a localização da residência. Bairros como Laranjal, destinado aos técnicos e diretores da empresa, e o Hotel Bela Vista, que abrigava os consultores norte-americanos, exemplificavam essa segregação. Esses dois bairros eram exceções à regra de preservar os morros como áreas de reflorestamento.
No bairro Conforto, localizado em frente à usina, os operários conviviam com a poluição gerada pelo processo siderúrgico. A sede da Fazenda Santa Cecília, preservada em um vale afastado da usina, servia como residência do presidente da CSN.
Bairro Conforto em 1946
O número de trabalhadores na construção da usina cresceu significativamente ao longo dos anos. Em 1941, eram 762 trabalhadores, chegando a 6.164 em 1942 e atingindo 13 mil durante a década de 1940-50. A CSN se tornou uma importante empregadora na região, impulsionando o crescimento populacional de Volta Redonda.
A demanda por moradias na Vila Operária era muito maior do que a oferta da CSN, levando à criação da “Cidade Livre”. Essa área abrigava trabalhadores menos qualificados e desmobilizados com o término da construção da usina. A “Cidade Livre” desenvolveu-se de forma não planejada, com crescimento acelerado e desvinculada dos interesses diretos da CSN. A especulação imobiliária foi uma realidade, com loteamentos irregulares e falta de infraestrutura adequada.
Em meio a esse cenário, a parte antiga da cidade, conhecida como “Cidade Velha”, destacava-se pelas suas ruas e casas de padrões mais baixos e manutenção precária.
Fotos: Volta Redonda Antiga