A Greve de 1988, também conhecida como Massacre de Volta Redonda, marcou um período de intensa luta e repressão na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), localizada em Volta Redonda. No mês de novembro daquele ano, os trabalhadores da empresa, que então era estatal, organizaram uma paralisação para reivindicar seus direitos.
As demandas dos trabalhadores incluíam reajuste salarial com base na inflação divulgada pelo DIEESE, estabilidade no emprego, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, readmissão dos demitidos em 1987, isonomia salarial, criação de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) eleita pelos trabalhadores, reconhecimento dos representantes sindicais, fim da perseguição à atividade sindical e divulgação do Sistema de Cargos e Salários da empresa.
Após uma assembleia realizada em 4 de novembro de 1988, os trabalhadores decidiram entrar em greve. O Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda liderou a ocupação da empresa, buscando paralisar suas atividades. Em 7 de novembro, a greve teve início e, após um confronto com a Polícia Militar, os trabalhadores conseguiram tomar o controle da CSN.
A direção da companhia recorreu à Justiça para solicitar a reintegração de posse e a intervenção do Exército como forma de solucionar rapidamente a situação. Em 9 de novembro, o Exército e a Polícia Militar começaram a dispersar a população na Vila Santa Cecília e invadiram a empresa na tentativa de retomá-la. Durante a ação militar, ocorreu um triste episódio conhecido como o Massacre de Volta Redonda, em que três operários foram mortos pelas forças de segurança: Carlos Augusto Barroso, Walmir Freitas Monteiro e William Fernandes Leite. Além das vidas perdidas, aproximadamente cem pessoas ficaram feridas.
Após o ocorrido, os grevistas radicalizaram o movimento, decidindo mantê-lo até o dia 20 de novembro. Durante esse período, houve troca de acusações entre o governo Sarney e os grevistas. O então ministro da Indústria e Comércio, Roberto Cardoso Alves, ameaçou fechar a empresa. Em 22 de novembro, a população de Volta Redonda atendeu aos apelos de sindicalistas e outros representantes da sociedade civil, promovendo um “abraço” simbólico em torno dos 12 quilômetros da Usina Presidente Vargas para demonstrar apoio ao movimento. Dois dias depois, em nova assembleia, os operários decidiram encerrar a greve, após o esgotamento do movimento e a repercussão internacional alcançada devido à intervenção do Exército. Em decorrência da repressão sofrida, o movimento sindical passou a se referir à greve de 1988 como o Massacre de Volta Redonda.
Anos mais tarde, em 2015, foi criada a Comissão Municipal da Verdade Dom Waldyr Calheiros, com o objetivo de esclarecer os detalhes da greve. Em seu relatório final, com 589 páginas, a comissão revelou informações importantes, como o fornecimento de explosivos por parte de bicheiros cariocas para um suposto atentado. A suposta participação do Exército, que sempre negou envolvimento no episódio, veio à tona quando o ex-capitão Delton de Melo de Franco denunciou o caso em uma entrevista publicada no Jornal do Brasil, em março de 1999. Ele afirmou ter recebido a ordem para coordenar o atentado em Volta Redonda pelo então general Álvaro de Souza Pinheiro, que também negou as acusações.
O relatório da Comissão Municipal da Verdade foi doado ao Centro de Memória da Universidade Federal Fluminense de Volta Redonda (UFF-VR), preservando a memória desse importante episódio da história trabalhista e sindical do país.