Curta participa do evento Pont.E que realizará uma mostra de obras em homenagem a vereadora brutalmente assassinada no Rio de Janeiro
“Não serei interrompida, vai ter que aturar mulher negra, trans, lésbica, ocupando a diversidade dos espaços.” A voz de Marielle Franco ecoa no filme assinado por Liliane Mutti e Daniela Ramalho, que será exibido no dia 29/02, quinta-feira, em Lausanne, na Suíça, abrindo a mostra que homenageará Marielle Franco, suas lutas, trajetória e legado. A mostra, promovida pela Association Le Renversé, tem como objetivo promover o intercâmbio entre as culturas dos dois países, o Brasil e a Suíça, por meio do cinema.
“Elle, Marielle Franco” é um filme-ensaio, narrado por áudios em primeira pessoa pelos pais de Marielle Franco e ela mesma, como o do trecho do seu discurso de posse como vereadora do Rio de Janeiro: “A gente tem lado, tem classe e tem identificação de gênero”. No curta, a voz de Marielle alterna com a voz da sua mãe, Marinete, e de seu pai, Antônio da Silva.
Durante a visita de seus pais à Paris, eles participaram junto a filha de Marielle, da inauguração do jardim “Marielle Franco”, quando pediram justiça para Marielle e seu motorista Anderson, brutalmente assassinado no Rio de Janeiro. À época, a família foi convidada pela prefeitura de Paris para inauguração do jardim público, localizado no 10ème arrondissement de Paris, entre a Estação Gare de L’Est e o Canal Saint Martin.
“E ver seu Antonio e dona Marinete, pais de Marielle, narrando a dor da ausência da filha e a sua luta incansável por justiça me dá um nó no peito. Quanto de potência foi arrancada da sua família e de todos nós? São perguntas que ficam sem resposta e o filme tenta trazer a ferida desse silêncio”, afirmou a cineasta. “O ‘Elle’ existe porque Marielle continua existindo em cada uma de nós que fazemos do cinema nossa re-existência e, através dele, lutamos por justiça, por cada vida interrompida. O filme carrega essa dor, especialmente a imensa dor da família de Marielle. É um filme de 2021, que continua a circular pelo mundo, enriquecendo rodas de debates em vários idiomas sobre feminicídio e tantos temas urgentes, como a violência contra a comunidade LGBTQIA+”, destaca a cineasta Liliane Mutti.
O filme reúne ainda imagens de arquivo, a partir do acervo da família de Marielle, de diversas fases da vida da vereadora, materializando o sentimento da vida interrompida. A obra revela Marielle criança, depois se formando na universidade com a bandeira do Brasil, até sua posse como vereadora do Rio de Janeiro e discursando na Câmara, com a presença de Indianara e de mulheres trans da Casa Nem.
Segundo Liliane, “Participar do “PontE”, um evento de circulação do cinema latino-americano na Suíça é de uma potência imensa, de romper fronteiras e levar o grito por justiça à Marielle para os cantos do mundo”. A iniciativa do PontE é da cineasta pernambucana Tila Chitunda, responsável pela curadoria e seleção dos filmes.
Sobre “Elle, Marielle Franco” e o Jardim “Marielle Franco”
O Jardim Marielle Franco – onde se passa no filme – foi inaugurado por uma iniciativa da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, a partir de uma demanda de associações brasilianistas como a RED.br (Rede Europeia pela Democracia no Brasil), a Mulheres da Resistência e a Autres Brésils. O filme foi realizado de forma colaborativa e voluntária pelos membros da Associação Ciné Nova Bossa e o Coletivo Ubuntu Audiovisual, e apoiado pelas produtoras Toca (BR) e Filmz (FR), com distribuição do Centre Simone de Beauvoir. “Elle, Marielle Franco” já percorreu diversos festivais e circuitos internacionais, entre eles: Brésil en Mouvement (Paris), Festival Rainbow (Ceará), Digo (Goiás), MujerDoc (Espanha), Imaginária (Itália), Cineffable (Festival Internacional dos Filmes Lésbicos e Feministas de Paris), e o prestigioso Festival de Caminho de Cinema, sediado em Coimbra, Portugal. “Elle, Marielle Franco” foi o único curta documentário e único filme brasileiro dirigido por mulheres na sua estreia na 28ª edição do Festival Chéries Chéris, no ano da sua estreia, em 2022, em Paris.
Crédito: Ana Godeiro